O dia adivinhava chuva, mas o céu acabou por dar tréguas e brindar-nos com uma manhã agradável. O passeio, com início marcado no Convento dos Cardeas, na rua de O Século, em Lisboa, esteve sob a batuta do Professor José Sarmento de Matos, o embaixador da Rota História, do Lisbon Week. O evento lisboeta aberto para Lisboa e para o mundo, entre 22 e 28 de outubro.
Voltemos ao Convento dos Cardeas. Um edifício datado de finais do século XVII, de estilo barroco. Fundado por D. Luísa de Távora, ficou praticamente intacto aquando do terramoto de 1755. Apenas o teto da igreja sofreu com o infortúnio. Lugar sagrado, de uma beleza singular, graças aos azulejos provenientes da Holanda, em finais do século XVII, em branco e tons de azul, detalhes que conferem luz e movimento, o esplendor da arte barroca. O altar mor representa um trabalho de (quase) ourivesaria nos embrechados de inspiração italiana. Por cada canto, corredores, escadaria, por cada sala, as figuras sagradas decoram pequenos altares de talha dourada. O périplo pelo Convento dos Cardeas continuou pelos claustros, pelo refeitório, por uma pequena capela de são José e duas salas de exposições de arte sacra recriada em figuras e quadros.
Adiante, abre-nos a porta o Palácio Marquês de Pombal – hoje , o berço de Sebastião José de Carvalho e Melo no dia do seu nascimento: 13 de maio de 1699. A imensa escadaria reporta-nos para o deslumbrante século XVII, num cenário de ostentação e luxo complementado por uma arquitetura deslumbrante rematada pelo estuques dos tetos altos do interior do edifício. Todos com a assinatura do italiano Giovanni Grossi, mestre na exuberância da arte barroca. A mesma beleza é contemplada no pequeno oratório erigido no meio de duas salas. A meio duas varandas. No cimo, a janela. Nas salas viradas para o jardim, outrora tratado com graça e dedicação, o imaginário parece retratar a história das grandes festas de finais do século XVII e meados do século XVII.
Foto: Biblioteca da Academia das Ciências de Lisboa • João Pedro Rato
Porque o saber tem lugar privilegiado na história, a Academia das Ciências de Lisboa é outro dos lugares de merecido destaque na Rota História do Lisbon Week. A receção é feita pelo Professor Telles Antunes, que nos teceu o retrato da Real Academia das Ciências de Lisboa, fundada em dezembro de 1779, no reinado de D. Maria I, uma instituição que promoveu o ensino e o desenvolvimento das ciências, humanidade, da tecnologia e engenharia em Portugal. Provas dadas? A Biblioteca da Academia das Ciências de Lisboa, inaugurada em 1795, onde encontramos livros de caráter religioso e científico de elevado grau de importância, considerada "uma das melhores bibliotecas de publicações portuguesas", onde se encontra "o preciosíssimo" livro das armadas ("Memória das Armadas", do século XVI), nas palavras do Professor José Sarmento de Matos. Na antecâmara estão expositores com objetos únicos de índole etnográfica da última expedição de James Cook. Como chegaram até aqui? O melhor é ouvir as histórias sobre a Academia das Ciências, cujas portas estão abertas especialmente durante o Lisbon Week. O roteiro acolhe ainda a Sala Duque de Lafões, D. João Carlos de Bragança, o primeiro presidente da Academia, a Aula Meynense 1792 (ano da morte do Padre Meyne) e o Museu Meynense, cujo mobiliário permanece intacto pelo tempo.
Foto: Museu Geológico de Lisboa • João Pedro Rato
Intacto pela erosão dos anos está o Museu Geológico, classificado como museu histórico único em Portugal, em 2010, onde nos espera o Professor Miguel Magalhães Ramalho. Verdade é que este espaço dedicado à geologia mantém as características dos anos 1930', bem como o rigor científico exigido a uma disciplina que aqui nasceu em 1859 a par com a arqueologia. Uma mão cheia de conhecimento resultante de um trabalho exímio, que desperta a curiosidade até mesmo no comum dos mortais. A visitar!
Entramos na igreja ao lado da Academia das Ciências de Lisboa, na paróquia das Mercês, dedicada ao culto de Nossa Senhora e decorada com azulejos de finais do século XVII e início do XVIII. Um tesouro do estilo barroco, com um altar mor trabalhado a talha dourada e onde estão expostos objetos de arte sacra. A figura que interpreta a fuga para o Egito é disso exemplo, assim como um velho presépio. Um legado da história da mesma época do Convento das Paulistas, onde está uma a enorme biblioteca de prateleiras quase despojadas de livros… A igreja, praticamente intacta pela erosão do tempo, mostra quadros de Vieira Lusitano, um teto de estuque em tons suaves, com a assinatura de Giovanni Grossi e um altar mor trabalhado a talha.
Terminamos no Palácio do Correio Velho, datado do século XVIII. Uma obra a descobrir na Rota História, entre muitas outras. Preparados para descobrir Lisboa?
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