24 setembro 2012

Tradição. De cá e de lá | Belcanto

Foto: Jorge Padeiro

A conversa informal tem lugar numa mesa redonda. No recanto mais poético da cozinha do desassossego. Com os chefs brasileiros Thiago e Filipe Castanho. Na bagagem veio o exotismo da Amazónia, submetido à travessia aérea sobre um imenso oceano até chegar ao destino, o Belcanto, em Lisboa. O anfitrião, o chef José Avillez.
Passemos às apresentações: Cumaru, cacau, jambú (e cachaça de jambú), tucupi, camarão seco, mandioca, carimã, tapioca, aviú, castanha do Pará e doce de cupuaçu. Oriundos da terra – e da tradição – de Belém, Pará, no Brasil, os ingredientes são postos à prova do paladar dos presentes, ao mesmo tempo que o chef Thiago Castanho explica a função de cada um na cozinha amazónica. Precisamente os mesmos ingredientes que farão parte do menu do Belcanto, concebido especialmente por ocasião das Comemorações do Ano do Brasil em Portugal.
No fundo, a tradição é resgatada do passado pelas mãos dos irmãos Thiago (24 anos) e Filipe Castanho (22 anos) – o primeiro na cozinha; o segundo na doçaria. Ambos foram, desde muito cedo, despertados pela arte de cozinhar, tendo como primeiro mestre o pai. Um gosto incrementado ao longo dos anos, que resultou na abertura de dois restaurantes em Belém: Remanso do Bosque e Remanso do Peixe. Ambos são os primeiros embaixadores do Brasil em Portugal. "O intercâmbio é legal. Vem um cara do outro lado do mundo (…) aí a gente abre a nossa mente. Isso faz crescer!" As palavras são de Thiago que, a respeito desta partilha de sabores provenientes do outro lado do mundo, acrescenta: "Para mim é uma honra representar a região."
No fundo, "cozinhar é uma partilha", esclarece José Avillez, que atribui grande importância à tradição – "é obrigatório não perdermos a alma da tradição", um arrebatamento que só traz boas recordações, "o mundo antigo, mas novo em descoberta". Uma partilha de culturas e de estórias, de cá e de lá. O limite? "Ser bom e fazer sentido", continua o chef português, pois "é preciso saber o que é bom para se chegar ao bom". À mesa, claro!

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